Liberalidade e libertinagem carnavalescas.

Por mais que se assemelhem, shows, festas de largo, prévias, micaretas e demais eventos não conseguem agregar as peculiaridades do Carnaval. É o clímax da exacerbação, o momento de extravasar, esperado durante um ano inteiro.
Época em que muita gente costuma fazer coisas que não teriam coragem de repetir em outras circunstâncias, a exemplo da vasta quantidade de homens travestidos, que saem às ruas em blocos ou de modo avulso, a fazer gracejos e provocar com irreverência; outros que não incorporam o espírito da festa acabam se incomodando com a arrelia. É preciso se adequar ao momento, aumentar a tolerância, o conservadorismo é o menor possível nessas horas.
Carnaval é a festa da carne, hora de abusar no prazer antes do sacrifício. Alguns homens exibem corpos trabalhados durante meses, mulheres expõem com ousadia suas formas, há uma forte conotação sexual, que desperta instintos primitivos involuntariamente na multidão. Os tambores africanizados ressoam a ritmar a psicologia da massa, que se mistura, mas sem tanta homogeneidade.
Diversas drogas à disposição, quase todos consumirão uma ou mais delas, envolvendo-se em relações casuais, duradouras de segundos, em locais inusitados. Há quem vá se manifestar de modo violento, expurgando suas mazelas. Nesses casos, mais cedo ou mais tarde, a PM vai chegar, para controlar os excessos.
É difícil estabelecer limites nessas horas, haja sapiência para diferenciar coreografias embaladas das vias de fato ou rixas, interceptar conjunções sem ser tão inoportuno, mas não há como ter vistas grossas em alguns casos. O uso de drogas ilícitas, por exemplo, inevitavelmente será combatido, dados os males que elas provocam durante a festa e principalmente fora dela, nas redes de tráfico que se estabelecem. Os limites da integridade física deverão ser respeitados, a mínima moral nos locais abertos precisa ser mantida.
Nessas horas a polícia é o pai, o síndico, o diretor da escola, o “chato” que constrange, mas que precisa estar presente para conter os excessos. Pode se embriagar, se depravar, desinibir, contudo sem provocar escândalo ou perturbação excessiva. O momento é para isso, “radicalizando, mas com limite”.
*Victor Fonseca também escreve no blog Blitz Policial

Tenente da Polícia Militar da Bahia e estudante de Jornalismo | Contato: victor_ffonseca@hotmail.com
Contato: victor_ffonseca@hotmail.com