HCA, política e corrupção na saúde.
por Danillo Ferreira
Já criança eu ouvia falar do Dr. Eduardo Leite, através de relatos, quando minha mãe contava de sua aflição à época em que meu pai passou por um procedimento cirúrgico, depois de sofrer um ferimento por faca numa festa popular, que por sorte atingiu seu fígado, órgão que possui a capacidade de regeneração. Dr. Eduardo foi quem realizou a cirurgia, e ainda hoje é lembrado por isso em nossa família.
Por essa confiança estabelecida, já aos 20 anos – poucos meses antes de ingressar na APM – fiz uma consulta com ele em seu consultório, um ambiente com certo ar intelectualizado, onde se ouvia uma música relaxante, e o Dr. Eduardo, diferente do que tradicionalmente se espera, sem a roupa branca “de médico”, mas com seus peculiares suspensórios. Ainda hoje sigo o preceituado naquela consulta: a prática da meditação e a utilização em larga escala do Bolero de Ravel – assumidamente o hino do Dr. Eduardo.
Coincidentemente, o médico-intelectual acabou me encontrando e comentando em meu blog pessoal, o que resultou num contato constante via WEB, discutindo e compartilhando percepções e experiências. Recentemente, foi nomeado Diretor do maior hospital público do interior da Bahia, o feirense Hospital Clériston Andrade (HCA), o que fez escassear-se nosso contato. A última vez que o vi foi quando o visitei em seu gabinete no HCA, um ambiente menos aconchegante que seu consultório, com o telefone tocando constantemente, lembretes espalhados pela sala, papéis amontoados na mesa.
Mas o som relaxante estava lá, persistente. Era um contraponto ao caos que caracteriza o serviço público, simbolizava a resistência do médico-intelectual aos vícios do Estado ineficiente, lento, e, por vezes, perverso. Agora, já fora da direção do Hospital, ele lança o livro “HCA, POLÍTICA E CORRUPÇÃO NA SAÚDE – Parte 1“, onde relata sua experiência como médico ao longo de 33 anos de exercício da medicina em Salvador, Feira de Santana e também como Diretor Geral do maior hospital estadual do interior da Bahia. Por se tratar dum profissional que se dedica à melhoria das instituições públicas sem meias palavras, sugiro aqui no Abordagem a obra, que será lançada no próximo dia 18 de setembro, no Foyer do Teatro da CDL, em Feira de Santana. Deixo, por fim, uma citação dum artigo recém-publicado pelo Dr. Eduardo em seu blog, que é suficientemente eloqüente:
Aos que concordam comigo e dizem que a medicina tem que ser reformulada eu sempre argumento: quem tem que ser reformulado são os médicos que usam dessas lamentáveis práticas, mas, não na sala de aula e sim na cadeia, juntos aos seus colegas de prática meliante, independente de serem doutores ou não.
Nesses vagabundos algema, sim. Eles, os doutores meliantes, na realidade causam mais malefícios à sociedade do que um marginal que não teve a oportunidade de estudar.

Cofundador do Abordagem Policial, Oficial da Polícia Militar da Bahia e associado ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Contato: abordagempolicial@gmail.com