Segurança tem saída
Luiz Eduardo Soares é quase um monopolizador no que se refere à produção de conhecimento prático de Segurança Pública no Brasil. Por ter passado por várias instâncias governamentais, municipal, estadual e federal, possui relevante experiência na área, conhecendo de perto os problemas das polícias, seu relacionamento com os governos e as contingências a que estão submetidas a prestação de um bom serviço à sociedade no que se refere à manutenção da paz social. Ao ler “Segurança tem Saída”, percebemos que nem sempre o profissional experiente se deixa levar pela maré do descrédito, tampouco terá ele, necessariamente, respostas velhas para os velhos problemas.
O livro começa desafiando o leitor a questionar o natural descrédito por que passamos ultimamente em matéria de Segurança Pública – estamos anestesiados com as tragédias cotidianas que a cada dia assola de modo mais latente nossa sociedade. Luiz Eduardo se propõe a mostrar, como o próprio título ilustra, que a questão da segurança no Brasil tem, sim, solução e começa a discutir questões variadas, que vão desde a legalização das drogas até as medidas necessárias para sanar a corrupção policial. Sobre este último tópico, ele diz:
“O maior obstáculo à corrupção é o orgulho profissional. Exemplos do que se pode fazer, nessa direção, é a mudança no regimento disciplinar da PM, que é obsoleto, draconiano e míope, isto é, severíssimo com falhas administrativas e lenientes com crimes cometidos fora dos batalhões. Os oficiais evitam abrir esse debate porque temem perder de vez o controle. É preciso compreender que os policiais de mais baixa patente sentem-se desrespeitados como cidadãos e trabalhadores pelo regimento em vigor. Regimento que, todavia, não tem sido eficaz na redução da brutalidade e da corrupção.”
O autor também critica as castas existentes na estrutura hierárquica das polícias:
“Hoje, na prática, há quatro polícias. Duas na PM e duas na Polícia Civil: os oficiais e as praças; os delegados e os agentes. O problema não é a hierarquia; são os obstáculos no progresso da carreira. Os profissionais que já estão nas polícias deveriam ser privilegiados nos concursos para delegados e nos cursos de formação de oficiais”
Muitas das idéias defendidas por Luiz Eduardo são polêmicas, e a grande maioria delas criativas e inovadoras. Por não se situar na posição de dono da verdade – e sempre ressaltar a importância da mudança na tentativa de acertar, uma vez que as velhas práticas não são mais eficientes nem eficazes – ele consegue chegar ao propósito do livro: fazer o leitor acreditar que é possível melhorar o status quo. Aos que entendem que as estruturas policiais atuais são imunes às discussões, devendo se conservar e perpetuar, o autor lembra:
“[…] as alterações que propomos não significam desordem e desestruturação de instituições organizadas. Desordem é o que temos hoje. Desestruturadas as organizações já estão. Elas já são ingovernáveis, refratárias a qualquer gestão.”
É óbvio que essas idéias não podem ser tomadas como verdades absolutas – o próprio autor descarta essa possibilidade -, entretanto, são temas de grande relevância e que sequer são discutidos por nós. “À guisa de conclusão”, deixo aqui a mensagem que o autor diz que “gostaria de ouvir em seu celular”:
“Luiz, acabei de ler o seu livro. Queria lhe dizer que, mesmo discordando de algumas coisas, mudei a minha visão da segurança pública e da violência. Sobretudo, mudei meu sentimento. Passei a achar que tem saída, sim. Não desiste, cara. Segue em frente. Vou fazer a minha parte. Fique aí com o meu abraço.”

Cofundador do Abordagem Policial, Oficial da Polícia Militar da Bahia e associado ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Contato: abordagempolicial@gmail.com